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Dr. Márcio Tannure, um dos nomes mais conhecidos do Departamento Médico do Flamengo, anunciou nesta terça-feira (07) sua saída do clube. Após 23 anos dedicados ao CRF, o médico divulgou uma carta emocionada em suas redes sociais, destacando sua trajetória e os títulos obtidos ao lado do time rubro-negro.
“Hoje, depois de quase 23 anos e ter participado da conquista de 2 taças Libertadores da América, 3 Campeonatos Brasileiros, 4 Copas do Brasil, 2 Supercopas do Brasil, 1 Recopa Sul-Americana, 11 Campeonatos Estaduais, além de 2 vice-campeonatos de Copa do Brasil, 1 vice-campeonato Mundial, 1 vice-campeonato sul-americano, 1 vice-campeonato da Libertadores e 3 vices nacionais, me despeço desse clube que faz parte da minha vida e da minha família”, escreveu o médico.
Tannure começou sua carreira no Flamengo como estagiário, em 2002, e ao longo dos anos cresceu dentro da estrutura do clube. Atuou em diversas áreas, passando pelos esportes olímpicos e pelas categorias de base, até assumir o comando do Departamento Médico do futebol profissional.
MUDANÇAS NA GESTÃO DO DEPARTAMENTO MÉDICO
A saída de Tannure está diretamente relacionada às mudanças promovidas pela nova gestão do Flamengo. Rodrigo Dunshee de Abranches, mais conhecido como Bap, que assumiu a presidência do clube, contratou José Luiz Runco para o cargo de diretor médico geral. Como parte da reestruturação, o comando do Departamento Médico foi alterado, e Fernando Sassaki, que liderava o DM da base, foi promovido para a chefia do elenco profissional.
Além da troca de liderança, a nova administração promoveu uma demissão em massa no setor médico, desligando 13 profissionais. Fernando Sassaki foi o único integrante do DM da base da gestão anterior que permaneceu, mas agora no comando do Departamento Médico do time principal.
EMOÇÃO NA DESPEDIDA
A carta de despedida publicada por Márcio Tannure trouxe reflexões sobre os desafios de trabalhar no futebol e a pressão enfrentada nos bastidores. O médico agradeceu a todos os colegas e funcionários que fizeram parte de sua trajetória e desejou sucesso aos novos profissionais que assumirão o departamento.
“Como dizia Roberto Carlos: ‘se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi!’ Dei minha vida por esse clube nesse período e esse clube me trouxe vida! Quero agradecer a todos os funcionários e colegas que pude conviver, liderando esse departamento no período mais vitorioso de sua história!”, escreveu Tannure.
O médico ainda ressaltou que, mesmo com todas as dificuldades e julgamentos externos, sempre se dedicou ao máximo para o sucesso do Flamengo: “Trabalhar no futebol nunca foi ou será fácil e exige uma habilidade e dedicação que muitos de fora nunca entenderão. Muitas vezes é julgado sem que saibam o que realmente acontece por trás das câmeras, e você e seus familiares sofrem as consequências disso.”
Ao final da carta, Tannure reforçou seu amor pelo clube: “Tenho certeza que sempre entreguei meu melhor para o clube com o que me era permitido. Honrei essa instituição com muito amor durante todos esses anos! Agora é lembrar os momentos felizes que vivemos juntos e desejar boa sorte aos que virão nessa nova etapa do clube e que alcancem o sucesso que o clube merece! Uma vez Flamengo, sempre Flamengo!”
A menção à expressão “gelo no sangue” e o trecho de uma música foram interpretados por torcedores como uma crítica direta à atual gestão comandada por Bap
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O Flamengo vive dias de instabilidade nos bastidores. A gestão de futebol liderada por Luiz Eduardo Baptista, o Bap, passa por críticas e questionamentos, enquanto o nome de José Boto, contratado no início da temporada como diretor técnico, tem sido centro de tensões recentes. No meio do furacão, Marcos Braz, ex-vice-presidente de futebol e figura influente nas conquistas de 2019, voltou à tona nas redes sociais com uma publicação que causou burburinho entre torcedores e bastidores do clube.
A expressão “gelo no sangue”, eternizada por Braz durante o ano mágico de 2019, ressurgiu. Em um story publicado em sua conta no Instagram, o ex-dirigente exibiu uma imagem com a frase, acompanhada por um trecho da música “Deixe a Vida Rolar”, do cantor Clovis Pê: “De boa, de nada. O tempo diz tudo. Faz o que der vontade. Sem medo do mundo.”
A combinação entre a legenda e a imagem não passou despercebida pela torcida, que viu ali um recado direto à cúpula atual do futebol rubro-negro. Torcedores rapidamente repercutiram a postagem. Muitos interpretaram como uma crítica velada à forma como o departamento de futebol vem sendo conduzido após a saída de Braz. Outros, porém, lembraram os maus resultados sob sua gestão nos últimos anos, especialmente em 2023 e 2024, e trataram a publicação como oportunismo.
O alvo da crise é José Boto, português com passagem por clubes como Shakhtar Donetsk e Benfica. Desde que assumiu o cargo no Flamengo, no início de 2024, o dirigente luso tem encontrado dificuldade para aplicar sua filosofia de trabalho no Ninho do Urubu. Relatos de bastidores indicam desgaste com o presidente Bap, principalmente após o veto da contratação do atacante irlandês Mikey Johnston, indicado por Boto.
A situação acendeu o alerta vermelho dentro do clube e pode culminar em uma eventual saída do profissional. Fontes próximas ao departamento de futebol indicam que uma reunião entre as partes deve acontecer nos próximos dias para discutir o futuro de José Boto. A relação entre ele e Bap se deteriorou ao longo das últimas semanas, e o veto a Johnston foi apenas a gota d’água.
A decisão do Mengão de recuar nas negociações por Mikey Johnston continua repercutindo internamente e nas redes sociais, entre dirigentes e influencias
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O assunto dividiu opiniões entre torcedores e reacendeu críticas à postura da diretoria, especialmente em relação ao compromisso com o profissionalismo prometido por Bap. De um lado, parte da torcida entendeu que o recuo foi sensato. A avaliação interna, conforme apurado, considerou o histórico de minutagem do jogador, a intensidade exigida pelo calendário brasileiro e o estilo de jogo do elenco atual. Esses fatores, somados, indicaram risco alto para uma contratação que exigiria imediatismo.
Entretanto, a ala mais crítica da torcida vê a desistência como um sinal de fraqueza. Na visão desses torcedores, a diretoria cedeu à pressão externa, contrariando justamente o discurso de profissionalismo e autonomia técnica que foi um dos pilares da eleição de Bap. Em meio ao impasse, uma entrevista antiga de Bap ao Flow Sport Club, dada ainda durante a campanha presidencial, ganhou destaque novamente.
O trecho, viral nas redes sociais, traz o dirigente falando sobre a importância dos scouts e criticando o peso excessivo da opinião popular. A declaração mais comentada e compartilhada foi direta: “Mas a gente acha que, porque assistimos a 500 horas de futebol, que enxergamos e conhecemos mais do que os caras. A gente não conhece.” A frase sintetiza o ponto de vista da diretoria sobre como decisões devem ser tomadas — com dados, análise e critério, não com base em clamor popular.
Durante a entrevista, Bap detalhou como o departamento de scout trabalha, revelando processos que vão muito além da simples observação de partidas. São cruzamentos de dados, análises de comportamento físico e psicológico e adaptação ao estilo de jogo da equipe. Sem citar nomes, Bap contou que o Flamengo analisava a contratação de um atleta, mas que os analistas identificaram que o jogador só conseguia manter intensidade por dois blocos de 30 minutos. Após esse período, tornava-se lento e vulnerável — algo que inviabilizaria seu uso em jogos de alta exigência.
Embora o presidente não tenha ligado diretamente esse caso ao nome de Mikey Johnston, a explicação é interpretada por muitos como uma justificativa embasada para a decisão recente. O clube analisou, ponderou e concluiu que a contratação não se encaixava no perfil necessário. O dirigente ainda destacou a evolução tecnológica no futebol, com softwares que comparam desempenhos e projetam cenários. Para Bap, isso permite ao scout ver mais do que os olhos captam ao vivo — e, por isso, devem ter autonomia.
A empresa havia adquirido o mando de campo do confronto, transferindo o jogo para o Maranhão, com a promessa de arcar com todos os custos logísticos do Flamengo
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O Flamengo decidiu recorrer à Justiça para cobrar uma dívida de R$ 587.354,00 da empresa JJ Produções Eventos, responsável pela organização da partida contra o Botafogo-PB, realizada no dia 1º de maio, pela terceira fase da Copa do Brasil. Nesse sentido, a empresa quitou metade do valor ao rubro-negro.
A empresa havia adquirido o mando de campo do confronto, transferindo o jogo para o Maranhão, com a promessa de arcar com todos os custos logísticos do Flamengo, incluindo transporte, hospedagem e demais despesas operacionais.
O objetivo da negociação era potencializar a arrecadação com bilheteria, já que o jogo, originalmente marcado para João Pessoa (PB), foi transferido para o Estádio Castelão, em São Luís (MA). No entanto, o acordo não foi cumprido integralmente. Segundo o Flamengo, o clube tinha gasto R$ 887 mil com a operação da partida, mas recebeu apenas R$ 300 mil de reembolso até então. Restando, portanto, mais de meio milhão de reais.